O abandono e a evasão escolar são alguns dos maiores problemas da educação no Brasil. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PnadC), em 2018, por volta de 4 em cada 10 brasileiros de 19 anos não concluíram o Ensino Médio. O estudo ainda destaca que 55% dos jovens largaram os estudos ainda no Ensino Fundamental.
Diante dos impactos negativos da evasão escolar sobre o aprendizado dos alunos em todo o Brasil, diversas prefeituras desenvolveram maneiras de lidar com o problema na sua região. Hoje gostaríamos de contar sobre o caso de São Bento do Una (PE) e como a cidade tem superado esse desafio.
São Bento do Una (PE) e os projetos “Voltei” e “Estou Presente, Professor”
Com a criação do Projeto “Voltei” e posteriormente do Programa “Estou Presente, Professor”, a cidade conseguiu reduzir a taxa de abandono escolar de 17,8% em 2005 para 2,7% em 2017.
Identificação do Problema
As duas iniciativas têm como passo número 1 o controle rígido de frequência dos alunos. Caso ocorram 3 faltas seguidas ou 5 alternadas durante um mês, o professor responsável pela turma, notifica a área da secretaria de educação responsável pelo projeto. Em seguida, os alunos com esses números de faltas são enquadrados em uma das duas categorias: evasão ou baixa frequência. Esse acompanhamento é feito online por meio de um aplicativo que também fornece dados para o bolsa família.
Visitação Familiar / Levantamento dos Motivos
O próximo passo é convidar os pais ou responsáveis dos alunos identificados para vir à escola e conversar sobre o problema. Em caso de não comparecimento, uma equipe da gestão da escola vai até a residência do aluno para buscar descobrir o motivo das faltas. Há uma ampla variedade de problemas que podem estar ocorrendo na residência que podem causar a infrequência escolar, tais como trabalho temporário assumido pelo aluno a fim de ajudar financeiramente a família, morte de algum parente e até violações de direitos do menor.
Diálogo com Responsáveis
Uma vez que o motivo das faltas é descoberto, fica a cargo da Secretaria de Educação e de seus parceiros, dialogar com a família sobre a importância da formação acadêmica na vida do(a) jovem e sobre a necessidade de retornar à escola. Tendo em vista que os motivos da infrequência escolar ou evasão podem ser muitos, é vital que a Secretaria desenvolva uma rede de parceiros no programa, tais como Conselho Tutelar, Conselho Municipal de Educação, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente, entre outros, que estão mais aptos a lidar com certas situações.
Encaminhamento
Não havendo sucesso no diálogo com os responsáveis, o caso pode ser direcionado tanto para o Conselho Tutelar quanto para o Ministério Público, dependendo da gravidade da situação identificada pelas equipes de de educação.
Os resultados mostram que como resultado dessas ações, não só a taxa de abandono escolar teve uma grande queda, como também o IDEB da cidade melhorou muito, passando de 2,5 em 2005 para 5,7 em 2017.
Se você quiser entender mais sobre essa política pública e se aprofundar no caso de São Bento do Una (PE), basta acessar o guia feito pela CNM aqui!
Distorção idade-série: efeito colateral e sua solução
Um efeito colateral se mantém mesmo com a queda da taxa da evasão escolar: a distorção idade-série.
A distorção idade-série é o percentual de alunos, em cada série, que têm idade acima da esperada para o ano em que estão matriculados. Isso acontece porque muitos dos alunos que tendem a faltar nas aulas, acabam perdendo muito conteúdo e por isso acabam repetindo de ano, em certos casos várias vezes, e ficando muito atrasados em relação a sua classe original.
Para solucionar esse problema, podem ser aplicadas as classes de aceleração. Elas fazem parte de uma estratégia de intervenção pedagógica, que busca sanar lacunas de aprendizagem e melhorar o desempenho dos alunos atrasados. Possibilitando, dessa forma, a recuperação do tempo perdido ao longo da trajetória escolar.
As salas participantes deste programa devem possuir recursos pedagógicos e professores especialmente capacitados para o ensino, que será intensivo e voltado para a recuperação dos alunos.
Essa estratégia foi criada pelo Ministério da Educação (MEC) em 1997 e foi premiada pela UNICEF no mesmo ano.