A desigualdade de gênero em cargos de poder político no Brasil sempre existiu no país e o resultado das eleições majoritárias de 2020 não colaborou para mudar esse cenário.
Mulheres são maioria da população, mas comandam o executivo em apenas 12% das cidades brasileiras
Apesar de representarem cerca de 51% da população brasileira, as mulheres venceram apenas 12% das disputas municipais majoritárias nas eleições de 2020. Tal desproporcionalidade é reflexo do baixo número de candidatas para o executivo municipal. Das 19.141 pessoas que se candidataram ao cargo de prefeito, só 2.496 (13%) eram mulheres.
O número de prefeitas eleitas ano passado representa, também, um modestíssimo avanço se comparado ao da eleição anterior, em 2016, quando só 11% das prefeituras foram conquistadas por representantes do gênero feminino.
FEMININO | MASCULINO | Total geral |
12,06% | 87,94% | 100,00% |
Sul e sudeste elegem menos mulheres
As regiões brasileiras que elegem menos prefeitas, proporcionalmente, são o Sudeste (8% dos prefeitos são mulheres) e o Sul (9%), respectivamente, seguidas pelo Centro-Oeste (11%), Norte (14%) e Nordeste (17%). Alguns dos estados com o maior índice de eleição de candidatas do gênero feminino são Rio Grande do Norte (22%) e Roraima (26%). Enquanto o Espírito Santo (1%) e Mato Grosso do Sul (6%) ocupam posições inferiores referentes à eleição de mulheres
Região | FEMININO | MASCULINO | Total geral |
Centro-Oeste | 11,45% | 88,55% | 100,00% |
Nordeste | 17,07% | 82,93% | 100,00% |
Norte | 14,61% | 85,39% | 100,00% |
Sudeste | 8,36% | 91,64% | 100,00% |
Sul | 8,98% | 91,02% | 100,00% |
Total geral | 12,06% | 87,94% | 100,00% |
Menos de 1 a cada 10 cidades com mais de 200 mil habitantes é comandada por mulheres
Caso a cidade seja de grande porte, a chance dela ser chefiada por uma mulher é ainda mais remota. Apenas 12 cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes, num total de 151 municípios, têm como prefeita uma mulher.
Dentre municípios com mais de 500 mil residentes, a representação feminina no mais alto cargo da municipalidade é ainda menor: há apenas duas prefeitas num total de 48 prefeituras.
Nenhum partido se salva
Embora o enfrentamento à desigualdade de gênero esteja presente no discurso de diversas forças políticas no Brasil, o resultado das eleições municipais mostra que ainda há muito a se fazer para mudar a atual realidade.
Praticamente nenhum partido conseguiu ultrapassar a barreira de 20% de mulheres entre seus prefeitos eleitos. A única exceção à regra é o PMB, Partido da Mulher Brasileira, que, fazendo jus ao nome, teve uma mulher encabeçando sua única vitória nas eleições majoritárias. Tal resultado, porém, é pouco expressivo ao se analisar todo o contexto eleitoral.
Dentre os partidos mais representativos*, o PV foi o que obteve menor índice de desigualdade de gênero: 19% das prefeituras vencidas pela agremiação tiveram uma mulher na cabeça da chapa. Já os com maior representação masculina foram Patriota e PSL: apenas 6% e 7% dos prefeitos eleitos por esses partidos são mulheres.
Partidos | FEMININO | MASCULINO | Total geral |
MDB | 100 | 683 | 783 |
PP | 72 | 613 | 685 |
PSD | 76 | 578 | 654 |
PSDB | 56 | 466 | 522 |
DEM | 63 | 405 | 468 |
*partidos que venceram ao menos 40 disputas por prefeituras em 2020.
Mulheres negras: grupo mais sub representado no comando municipal
A desigualdade de gênero entre os prefeitos eleitos é ainda mais latente observada sob o recorte racial. De acordo com o censo de 2010, homens brancos representam cerca de 23% da população brasileira. No entanto, esse grupo demográfico domina a chefia das cidades brasileiras, tendo vencido quase 6 a cada 10 eleições municipais em 2020.
Do outro lado da moeda, estão as mulheres negras. Elas também constituem cerca de ¼ (26%) da população do Brasil, mas comandam menos de 4% das cidades do país. Já as mulheres brancas (24% do população), que também são sub-representadas no cargo mais alto do âmbito municipal, chefiam apenas 8% das prefeituras.
Raça | FEMININO | MASCULINO | Total geral |
AMARELA | 0,11% | 0,27% | 0,38% |
BRANCA | 8,07% | 59,15% | 67,23% |
INDÍGENA | 0,02% | 0,13% | 0,15% |
PARDA | 3,65% | 26,21% | 29,87% |
PRETA | 0,18% | 1,85% | 2,03% |
SEM INFORMAÇÃO | 0,02% | 0,33% | 0,35% |
Total geral | 12,06% | 87,94% | 100,00% |
A baixa representação feminina nas prefeituras
O interesse das mulheres pela política é inquestionável, visto que elas compõem 46% da filiação em partidos políticos. Os motivos da pouca representação política feminina são muitos, desde o direito tardio ao voto, ao pouco incentivo de campanha para as candidatas do gênero feminino.
Após a minirreforma eleitoral de 2009, foram adotadas medidas, leis e emendas que visavam o crescimento do número de mulheres na política. Neste contexto, o STF decidiu em 2018 que as campanhas femininas deveriam receber pelo menos 30% dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha.
Porém, mesmo com as tentativas, os dados permanecem, por ora, desanimadores e são consequência de uma história de afastamento das mulheres de cargos de poder.