Texto retirado do site da Revista Exame, veja na íntegra.
Foi pensando em formas de retribuir o auxílio que recebeu da prefeitura de sua cidade natal para estudar que o engenheiro Rodolfo Fiori decidiu empreender. No seu tempo livre, enquanto ainda trabalhava para o Grupo Votorantim, o empreendedor começou a analisar dados públicos e percebeu que havia espaço para um negócio que ajudasse os municípios brasileiros a organizar suas finanças.
Em 2016, depois de se demitir, participar de projetos voluntários e cursar um MBA no exterior, Fiori conseguiu tirar a ideia saiu do papel com a ajuda do sócio Ricardo Ramos, que foi seu colega de faculdade na Universidade Federal de São Carlos. Juntos, eles criaram a Gove, uma startup especializada na automatização da análise de dados financeiros de municípios e na identificação de ineficiências na gestão pública.
Após quase quatro anos operando com capital próprio, a startup decidiu que era hora de procurar o mercado de Venture Capital para financiar sua expansão. Nesta terça-feira, 27, os sócios anunciam com exclusividade para a EXAME o recebimento de um aporte de 8 milhões de reais feito pela gestora Astella Investimentos, que também investe nas startups Resultados Digitais e Kenoby.
“Encontramos na Gove os elementos que tornam as empresas tech grandes ícones da nossa sociedade: um time incrível com muita experiência, um produto dez vezes melhor do que qualquer alternativa e um processo de venda eficiente e escalável”, afirma Edson Rigonatti, sócio da Astella.
Com o capital levantado, a empresa quer aumentar sua equipe de vendas para multiplicar por dez a base de municípios que atende na sua plataforma. Hoje, com 20 funcionários, a Gove atende 31 prefeituras, entre elas as de Blumenau e Araguaína.
De acordo com Fiori, o potencial para crescimento é enorme. “Os Estados Unidos movimentam por ano 200 bilhões de reais considerando compras de tecnologia de governos locais — no Brasil, as compras movimentam cerca de 25 bilhões”, afirma o presidente da startup.
Modelo de negócio
“Dos mais de 5.500 municípios brasileiros, a maioria são pequenos e médios. Todos os anos, eles gastam um volume gigantesco de recursos de maneira bastante ineficiente. Isso tem vários motivos, mas um deles é a falta de dados para ajudar na tomada de decisões”, diz Fiori.
Pensando em formas de solucionar esse problema, a Gove criou uma plataforma que consegue se conectar com os diversos sistemas das prefeituras para coletar dados. Com isso, ela automatiza as análises que os gestores precisam fazer todos os dias no município.
Além disso, a empresa consegue identificar ineficiências nos gastos da prefeitura, propondo alternativas para os problemas. “Conseguimos analisar, por exemplo, ineficiências na tarifa de energia elétrica dos prédios públicos ou nas despesas com medicamentos para a cidade”, afirma Ricardo Ramos.
Os contratos com as prefeituras são firmados por licitações e duram um ano. O valor pago à startup depende do orçamento de cada cidade, mas varia entre 80.000 e 400.000 reais.
Até então, a companhia também vendia o serviço para empresas privadas, que poderiam doar o sistema para prefeituras. Hoje, no entanto, o foco dos sócios é no modelo de venda direta para o governo. “Nosso processo de venda dura 4,5 meses, em média”, diz Fiori.
Com as eleições municipais em novembro, a startup está animada. Segundo os sócios, o momento de troca de governo é propício para as administrações considerarem novos recursos de gestão. Além disso, a pandemia do novo coronavírus alavancou a digitalização do setor público, o que torna os gestores mais abertos a experimentar novas tecnologias.
Outra oportunidade que pode aparecer no futuro é a aprovação do Marco Legal das Startups. Enviado pelo presidente ao Congresso Federal na semana passada, o texto estimula que todas as instâncias do governo façam negócios com empresas de inovação.
“Estamos em uma janela de oportunidade propícia para crescermos. Os gestores naturalmente vão procurar soluções para reestruturar os gastos em um momento de crise”, afirma o presidente da Gove.