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Onde estão os CTOs de nossos governos municipais?

Onde estão os CTOs de nossos governos municipais?

Texto retirado do Blog do MLG do Estadão

Autor do texto:

José Rodolfo Fiori é mestre em Desenvolvimento Econômico Local pela London School of Economics & Political Science; tem especialização em Gestão Pública pelo Master em Liderança e Gestão Pública, do Centro de Liderança Pública (CLP) e pela Harvard Kennedy School. Atualmente, integra a área de Relacionamento Institucional na Gove.

No texto, o autor fala sobre a falta de uma liderança estratégica na área de tecnologia dos governos municipais. Segundo ele, a administração pública possui um grande atraso por conta da ausência de profissionais de tecnologia, responsáveis pela construção e execução das estratégias. No texto, José Rodolfo elenca 4 contribuições importantes que este profissional pode conferir ao setor público. Confira:

Em meio à mais relevante crise da nossa e muitas outras gerações, num momento em que o mundo online está ganhando predominância numa velocidade nunca vista, fazendo com que os mais diversos setores se digitalizem, uma peça chave da transformação digital de governos municipais está faltando: o CTO.

Este termo, CTO, é comumente utilizado em empresas para se referir ao Chief Technology Officer que é o profissional da alta liderança da organização responsável pela construção e execução da maior parte de suas estratégias de tecnologia. Num mundo cada vez mais digital e tecnológico, principalmente em meio à pandemia da Covid-19, o profissional que ocupa a posição de CTO de uma organização tem ganhado cada vez mais importância. Organizações de caráter público, aqui neste texto me refiro a administrações públicas municipais, guardam relação com organizações de caráter privado (empresas, por exemplo).

Ambas têm, por exemplo, orçamentos a serem construídos e executados, departamentos que são responsáveis por atividades e tarefas, profissionais que ou são geridos ou fazem gestão de pessoas, serviços e produtos que devem atender seus clientes ou cidadãos, e várias outras funções similares. Uma outra similaridade importante é que, para ambas organizações, públicas e privadas, a tecnologia é um fator fundamental que pode fazer com que quase todas as atividades ali desempenhadas possam ser feitas com muito mais eficiência e qualidade.

Assim como empresas, as administrações públicas municipais podem se beneficiar da transformação digital. No entanto, organizações públicas e privadas se encontram em momentos bastante distintos com relação à maturidade na jornada de transformação digital: diferente das empresas, a administração pública municipal ainda não começou a sua transformação. Dentre outros fatores, este atraso se dá pela quase ausência total de profissionais de tecnologia de alta, média e baixa liderança nas administrações públicas municipais. Os famosos CTOs das organizações privadas, ou seja, aqueles profissionais responsáveis pela construção e execução da estratégia de tecnologia praticamente não existem no setor público.

Os quadros técnicos e de liderança de tecnologia na maioria dos municípios é composto por poucos profissionais com remuneração não competitiva com relação ao mercado de tecnologia no país e, talvez mais importante, com poucos incentivos organizacionais para se capacitar e promover melhorias no ambiente tecnológico interno da administração municipal. Com pouquíssimas exceções, estes profissionais normalmente se reservam a executar atividades de gerenciamento de prestadores de serviço, suporte de manutenção e instalação de programas e equipamentos, e atividades simples de infraestrutura de tecnologia e arquitetura de soluções. Tudo muito longe de um trabalho que vai transformar e digitalizar o setor público municipal

E por quais motivos os tais CTOs poderiam ser relevantes para nossa administração pública? Neste texto elenco 4 contribuições importantes que este profissional poderia conferir ao setor público municipal.

1. Dados para tomada de decisão

Com a alta disponibilidade de dados gerados em governos, CTOs poderiam desempenhar o papel de construção e/ou aquisição de soluções que atuem como hub que consolida os dados relevantes para que estes possam ser analisados e informados aos tomadores de decisão; atualmente, a maioria das decisões tomadas por governos não são baseadas em dados e evidências, fato que gera bastante ineficiência no setor público.

2. Plataformas digitais de atendimento ao cidadão

Muitos serviços que o governo oferece, como pagamento de tributos, emissão de alvarás, credenciamento em serviços, entre outros, são oferecidos offline requerendo o deslocamento dos cidadãos até o equipamento público; especialmente num contexto de pandemia, estes serviços poderiam estar sendo digitalizados, facilitando o acesso pelo cidadão.

3. Governança de dados

A cada segundo governos municipais geram enormes quantidades de dados sobre cidadãos. Da forma como atualmente a geração de dados acontece, dois problemas são flagrantes e podem estar gerando implicações sérias para governos e sociedade: a primeira é que esta imensa quantidade de dados gerados não têm sido protegida por sistemas segurança de informação modernos e em linha com as boas práticas do mercado, gerando risco de exposição de informações sigilosas de cidadãos; o segundo problema é que, por estes dados não estarem organizados e, os não sigilosos, não estarem disponíveis para a sociedade civil, nós (cidadãos) perdemos capacidade de fiscalizar o setor público de maneira mais efetiva. CTOs poderiam implementar estratégias que aumentassem a segurança dos processos de armazenamento de dados de governos municipais ao mesmo tempo que também aumentassem a transparência de dados não sigilosos.

4. Estrutura organizacional

Para que municípios realizem sua transformação digital são necessárias estratégias de profunda alteração na forma como governos, seus processos e pessoas estão estruturados. Novas responsabilidades precisam ser pensadas, processos necessitam ser rescritos para serem executados de maneira digital e profissionais precisam aprender novas habilidades. Além disto, necessita-se de uma mudança cultural drástica em que funcionários públicos estarão mais dispostos a mudar e inovar. Lideranças na área de tecnologia terão a missão de direcionar os diversos e complexos esforços para uma rápida e eficiente transformação digital nas estruturas dos governos.

Em meio à esta crise sem precedentes, a aceleração da transformação digital de governos pode ser o “copo meio cheio” que nos resta.

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