Existem muitos fatores que impactam a qualidade do aprendizado dos alunos, como a infraestrutura escolar, situação socioeconômica da família, método de ensino do professor, entre outros. Contudo, diversas pesquisas mostram que nada é mais importante do que a qualidade do professor. Uma delas, realizada em Dallas[1] nos Estados Unidos, mostrou que um aluno que tem um professor excepcional por apenas 1 ano, se manterá a frente de seus colegas de turma por pelo menos 5 anos.
Um dos indicadores importantes para avaliar a qualidade dos professores na sua cidade, é o de Adequação da Formação Docente. Criado em 2013 pelo MEC, ele separa os professores em cinco grupos, do 1 ao 5, de acordo com o seu nível de formação e adequação à área que leciona, os que estão no grupo 5 são aqueles que possuem formação superior em licenciatura na mesma área que lecionam e os que estão no grupo 1 são aqueles docentes sem formação superior. A partir da análise da situação desse indicador no seu município, que pode ser encontrada no Diagnóstico Socioeconômico feito pela Gove, é possível ter uma primeira ideia de como a sua cidade se encontra em relação a formação dos professores, que é um dos importantes fatores que ajudam a predizer a qualidade de um docente.
Além da formação docente, é importante avaliar outros dados que medem por exemplo, o nível de capacitação dos professores e o quanto eles se sentem valorizados, dois importantes componentes para que o docente ministre aulas de qualidade. Nesses componentes, a situação do Brasil demonstra-se crítica. Dados do Todos Pela Educação [2] mostram que 70% dos alunos de pedagogia têm pontuação no Enem abaixo da média, 69% dos docentes querem urgentemente mais formação continuada e 49% dos professores não recomendam a própria profissão.
Atração de talentos para a profissão docente
Diante desse cenário é vital que prefeitos, secretários e outros líderes municipais, construam políticas públicas de valorização do docente e de atração dos melhores talentos para essa profissão. Para saber como atrair esses talentos, a pesquisa realizada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento [3] sobre a profissão de professor na América Latina, se mostra bastante relevante. Ela demonstra que os principais fatores que influenciam um jovem a escolher a carreira de docente e permanecer na mesma são:
- Motivação intrínseca
- Prestígio da profissão
- Salário e bônus
- Oportunidade de crescimento profissional
- Condições de trabalho
Contudo, quando cada um desses fatores é avaliado no Brasil, a situação se mostra ainda mais crítica. Em uma pesquisa realizada pela Varkey Foundation [4] em 35 países avaliando o status dos professores na sociedade, o Brasil ficou em último lugar, atrás de países como Argentina, Colômbia, Peru, Chile e Panamá. Na escala de zero a 100, em que quanto mais alto o número, maior é o prestígio do professor no país, o Brasil ficou com apenas 2 pontos.
Boas práticas de valorização da profissão
A partir dessas informações é evidente a necessidade de ações incisivas para valorizar a profissão docente no Brasil e assim, melhorar efetividade do aprendizado dos alunos. Dentre as ações que podem ser tomadas pelas redes de ensino municipais, e que são recomendadas pelo Todos pela Educação, uma das mais importantes é a reestruturação do plano de carreira desses profissionais.
No formato atual da maior parte das redes públicas de ensino, o professor realiza as mesmas atividades e mantém as mesmas responsabilidades ao longo de sua carreira, sem uma progressão gradual das suas atribuições, algo que depois de muito tempo como docente torna o dia a dia desmotivador. Para atrair os jovens da nova geração e tornar a carreira mais atrativa, é necessário fazer com que a carreira do professor seja dinâmica e abra portas para novos desafios. Tendo como referência, práticas de países referências em educação, algumas boas práticas que podem ser adotadas são:
- Criar trilhas de carreira que possibilitem ao professor ensinar em uma parte do dia e, também ajudar outros professores para o seu desenvolvimento profissional;
- Promover oportunidades de passar algum tempo no ministério trabalhando como consultor em políticas educacionais;
- Abril oportunidade para que docentes sejam responsáveis pelo currículo e avaliação;
Progressão salarial é uma importante variável para a motivação dos profissionais
Além dessas ações, outra mudança proposta pelo Todos pela Educação nos planos de carreira são os critérios para a progressão salarial. Atualmente essa progressão acontece apenas com base nos anos de experiência e no número de titulações que o docente acumula, e quase não considera a melhora da prática pedagógica. Esse modelo acaba por não criar incentivo algum para que professor busque aprimorar seu método de ensino e o seu desempenho em geral. Outros critérios de progressão que poderiam ser adicionados nas redes de ensino são:
- Observações de aulas por parte de superiores;
- Resultados em pesquisas de avaliação feitas por alunos;
- Resultados em pesquisas de satisfação feitas com pais;
- Notas dos alunos do professor.
Como não existe apenas um instrumento que seja capaz de refletir a qualidade de um professor, é importante que diversos critérios sejam utilizados em conjunto. Nas próximas semanas, continuaremos enviando ações recomendadas pelos maiores especialistas do setor e que têm sido aplicadas em diversos municípios do Brasil. Se quiser aprofundar-se nas políticas públicas desse tema produzidas pelo Todos pela Educação, clique aqui!
[1] https://www.ernweb.com/educational-research-articles/effective-teachers-are-the-most-important-factor-contributing-to-student-achievement/
[2] https://www.todospelaeducacao.org.br/_uploads/_posts/252.pdf
[3] https://publications.iadb.org/publications/portuguese/document/Profiss%C3%A3o-professor-na-Am%C3%A9rica-Latina-Por-que-a-doc%C3%AAncia-perdeu-prest%C3%ADgio-e-como-recuper%C3%A1-lo.pdf
[4] https://www.varkeyfoundation.org/media/4790/gts-index-9-11-2018.pdf